Síndicos apontam
término de bonificação como uma das causas do crescimento; números da Sabesp
atestam a tendência em São Paulo
Passados dois anos da pior crise hídrica que São Paulo já vivenciou, síndicos e administradoras indicam crescimento do consumo de água nos condomínios da capital paulista encarecendo o valor da taxa de manutenção dos conjuntos. Juntas, as contas de água e eletricidade representam cerca de 20% dos gastos de um edifício.
Números da Sabesp
também apontam tendência na direção do aumento do consumo. Em 2015, ano em que
começaram a surgir os primeiros indícios de reversão da crise, o consumo por
apartamento era de 11,4 m³ na cidade de São Paulo, segundo cálculos da empresa.
Dois anos depois, o gasto é de 11,8 m² por unidade.
O síndico
profissional Ricardo Antônio Júnior, de 36 anos, administra cinco conjuntos
residenciais na zona norte de São Paulo. Passada a fase de escassez, ele
percebeu o aumento da conta de água em todos os cinco condomínios.
“Durante o pior
período de seca, o prédio que mais conseguiu abaixar o consumo reduziu o
consumo de 250 metros cúbicos por pessoa para 190 m³”, diz. Antônio conta que
neste ano os números voltaram para os 250 m³. “Eu costumava pagar R$ 900 na
conta de água durante a seca, hoje pago R$ 1.600.” Ele ressalta que na época da
escassez, o prédio possuía um número maior de apartamentos ocupados; agora, a
quantidade de moradores diminuiu.
A mesma situação é
relatada pela síndica Janaina Bonassi, de 39 anos. Ela modificou o sistema do
condomínio antes de a crise chegar, porque não havia troca de encanamentos “há
um bom tempo”. “A tubulação dos reservatórios baixos era subterrânea e estava
ruim. Troquei para os feitos de cobre”, lembra. Com essa mudança, afirma,
“pararam os vazamentos que existiam entre os reservatórios baixos e a tubulação
alta”.
Não foi o
suficiente, no entanto. Em maio de 2015, período de seca nos reservatórios, o
condomínio de Janaína, na Vila Alpina, consumia 957 m³ de água, pagando cerca
de R$ 2.550. Em maio de 2016, o consumo era de 1.026 m³, custando R$ 4.763. No
mesmo mês deste ano, o consumo caiu para 895 m³, mas a conta subiu para R$
4.119.
Na tentativa de
reduzir ainda mais o consumo, Janaina instalou caixas dual fluxo, que consomem
menos água, em todos os banheiros das áreas comuns do conjunto, colocou capa
sobre a piscina a fim de evitar evaporação de água, instalou torneiras com
temporizador e instalou sistema de coleta de água da chuva para reúso.
A síndica também fez
campanha para incentivar os proprietários a trocar válvulas de descarga por
modelos mais econômicos, ações de “caça vazamentos” e divulgação de resultados
sazonais.
De acordo com o
professor especialista em engenharia hídrica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie Eduardo Giansante, a Sabesp não deve parar de fazer campanha de
redução de consumo. “As ações publicitárias são imprescindíveis. O governo
precisa fazer mais esforços, até o momento em que o brasileiro tenha
consciência.”
O síndico Valdenilson
Marques, de 39 anos, concorda. “É preciso continuar com as campanhas, porque
elas fazem uma grande diferença. O morador ganha mais consciência quando vê os
impactos”, conta.
Ele administra um
condomínio no Limão, que possui 182 apartamentos distribuídos por suas três
torres. “Durante a crise hídrica, a conta de água do prédio era de R$ 7.500.
Hoje, é de R$ 8.300”, afirma.
Apesar do aumento no valor da conta, Marques acredita que o paulistano tem mais consciência a respeito do problema, “mas longe do necessário”. “Eu ainda vejo hoje muitas pessoas usando a água de torneira para lavar a calçada”, diz.
Apesar do aumento no valor da conta, Marques acredita que o paulistano tem mais consciência a respeito do problema, “mas longe do necessário”. “Eu ainda vejo hoje muitas pessoas usando a água de torneira para lavar a calçada”, diz.
Para reduzir o
consumo, ele divulgou em todas as áreas comuns do condomínio comunicados para
tentar conscientizar os moradores para a necessidade economizar. Marques também
instalou tubulação específica para captar água da chuva para reúso. “E logo que
um morador avisa que há algum vazamento, eu imediatamente analiso e chamo um
técnico”, diz.
“Mas os condôminos
precisam mudar também”, acrescenta. Ele avalia o término do programa de
bonificação da Sabesp como uma das causa do aumento do gasto com água. “Quando
terminou o bônus, voltou-se a gastar como antes”, diz ele.
Bônus. Durante a
escassez de água, o governo do Estado acelerou obras de interligação entre os reservatórios,
recorreu ao uso do chamado volume morto das represas, estabeleceu multa pelo
consumo excessivo e ofereceu bônus para quem economizasse água.
O programa de
bonificação da Sabesp foi implantado em 1° de fevereiro de 2014 para os
moradores atendidos pelo Cantareira e, dois meses depois, ampliado para 31
municípios da região metropolitana. Na prática, quem reduziu o consumo em 20%
ou mais, recebia desconto de 30%; entre 15% e 20%, o abatimento era de 20% e
entre 10% e 15%, 10%. O sistema de gratificação foi encerrado em 1° de maio de
2016.
O professor Giansane
concorda com a temporalidade. “A bonificação é dada somente em casos
específicos, porque a conscientização deve existir não em função de um
desconto”, diz.
A síndica Janaina
conta que quando o programa de bônus entrou em vigor, o prédio Alto dos
Pirineus já estava com vantagem “porque tínhamos reduzido o consumo”. De acordo
com ela, o dinheiro que era descontado da conta de água era revertido para
investimento no conjunto residencial que administra.
Uma outra solução
para economizar o gasto com água é a individualização da conta de consumo. “Nos
condomínios que eu administro não é válido, porque há poucos apartamentos”,
afirma Júnior. O síndico diz que só compensa adotar o procedimento quando ocorre
consumo exacerbado ou quando existem muitas unidades.
“A individualização
pode sim ser uma solução, mas não custa barato”, diz o professor. “Os edifícios
construídos antes da nova lei municipal (que determina a individualização) são
defasados, têm colunas que leva água para cada cômodo da unidade(uma para o
banheiro, outra para a cozinha etc.). Agora, cada apartamento tem apenas uma
única entrada”, conta. A reforma em um prédio pode custar entre R$ 25 mil e R$
50 mil, segundo ele.
Inovação em gestão predial
e a adoção de tecnologias de automação contribuem para reduzir os gastos do
condomínio e controlar as contas, de acordo com o gestor de negócios da
Fundação Vanzolini, Bruno Casagrande.
“Nem sempre, porém,
os síndicos sabem utilizar corretamente, por exemplo, uma automação de
iluminação, o que faz com que tenha um gasto absurdo”, afirma.
Sustentável. A
fundação aplica no Brasil o selo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) – uma
certificação internacional de construção sustentável de origem francesa.
Casagrande
acrescenta que a redução de água e a diminuição da conta de luz são
características de um condomínio “verde”.
“Os condomínios
pecam muito na administração. Precisa rever as contas, tomar medidas que
diminuam os gastos.”
“A gestão de
resíduos também é importante, porque tem um impacto ambiental muito grande
também”, diz Casagrande. Ele conta que se os condomínios conseguissem alterar o
destino dos lixos contribuiriam para a sustentabilidade.
“A ideia é não
deixar que o lixo vá para o aterro e, de alguma forma, conseguir transformar o
resíduo em algo para ser usado posteriormente”, acrescenta. “Se conseguir
reduzir em 20%, o impacto positivo é extremamente significativo.”
Selo. Há nove anos,
a fundação certificou 453 edificações, com mais de 8 milhões de metros
quadrados de área construída e quase 50 mil unidades habitacionais.
A certificação é
concedida pela instituição por meio de auditorias presenciais em quatro fases
do empreendimento: pré-projeto, projeto, execução e operação e uso.
A Even Incorporadora
foi a primeira construtora com selo Aqua no País. Desde 2012, todos os projetos
e empreendimentos residenciais da empresa privilegiam as iniciativas para
economia de água e energia, de acordo com informações divulgadas por ela. O
projetos ainda preveem soluções de conforto acústico, questões térmicas,
visuais e olfativas.
Segundo a
construtora, todos os projetos cumprem 14 requisitados, agrupados em quatro
áreas: ecoconstrução, ecogestão, conforto e saúde. Um dos empreendimentos
verdes é o Mariz Vila Mariana, na capital paulista.
Fonte : economia.ESTADÃO
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